sábado, 27 de novembro de 2010

O pensamento como movimento

Para que ocorra a “propriocepção do pensamento” Bohm (2005) sugere que se “suspenda” o sentimento. Isso não significa reprimi-lo ou manifestá-lo, mas mantê-lo em um “ponto instável” para que seja possível observar a totalidade do processo. Outra forma de suspender o sentimento, sugerida por Bohm (2005), consiste em fazer com que o sentimento venha à tona “propositalmente” e a partir disso efetuar uma “revisão” das sensações e reações ocasionadas por ele.

Buscando uma significação ampliada para o sentido de propriocepção, Bohm (2005) explica a coerência a incoerência e o processo tácito do pensamento. A incoerência se refere à limitação do conhecimento. Visto que o conhecimento é uma abstração do todo e consiste no aprendizado de algo até determinado ponto. Quando se reconhece a incoerência se descobre que algo não está certo e pode ser alterado.

Por outro lado, a coerência representa a ordem, a beleza e harmonia. Mas se estivermos motivados a identificar somente a ordem, harmonia e beleza é provável que nos tornemos vítimas de um auto-engano, assim, necessitamos do senso negativo da incoerência, pois este é o caminho para a coerência. Para Bohm (2005) o movimento em direção da coerência é inato, mas o pensamento o tornou confuso. Deste modo qualquer mudança importante necessita ocorrer no processo tácito do próprio pensamento. Esse processo tácito, concreto, é o conhecimento real e pode ser coerente ou não.

O conhecimento tácito não foi sistematizado conscientemente pelo indivíduo e por esta razão o indivíduo não tem consciência da sua existência. Bohm (2005) defende que no nível que o pensamento emerge no processo tácito ele é um movimento, que pode ser autoconsciente e seu movimento pode ser autoperceptivo. Entretanto se não houver a sensação de que o ocorrido se deu no nível do pensamento, os acontecimentos serão tacitamente aceitos como uma percepção direta da realidade.

Bohm, D. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athenas, 2005.

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